Fóssil interestelar: entenda por que o Meteorito Santa Filomena é tão importante para a ciência
15/04/2023
Corpo celeste foi encontrado no telhado de uma casa na cidade no interior de Pernambuco. Meteorito Santa Filomena fará parte de exposição no Museu Nacional
Cristina Boeckel/g1 Rio
Primeiro meteorito recuperado no Brasil desde o incêndio do Museu Nacional, o Santa Filomena foi apresentado esta semana e passou a integrar o acervo da instituição, no Rio de Janeiro.
Parece uma pedra comum, mas os 2,8 quilos têm mais história do que qualquer outra coisa na Terra. Até fósseis de dinossauro 🦕 são “bebês” 👶 perto dessa rocha, na escala astronômica.
Isso porque o Santa Filomena tem 4,56 bilhões de anos! ⌛
O Santa Filomena é formado por poeira que, aglomerada, sofreu derretimento devido às altas temperaturas próximas à estrela que se formava. Entretanto, alguns grãos se mantiveram intactos e foram incorporados em meteoritos. Esses grãos trazem informações sobre as estrelas que morreram antes do nosso Sol 🌞.
Então, tocar no Santa Filomena é tocar no passado!
Role a página e desbrave esse fóssil interestelar:
De onde veio?
📍 Por falar em vizinhos, o meteorito que caiu em Pernambuco veio de bem longe: numa região entre os planetas Marte e Júpiter, chamado de Cinturão de Asteroides.
Mas calhou de o caminho do Santa Filomena cruzar com o da Terra, e na tarde de 19 de agosto de 2020, houve o impacto 💥.
Essa pedrinha anciã estava no telhado de uma casa. Quem achou foi uma senhora, moradora da cidade. As pesquisadoras Elizabeth Zucolotto e Amanda Tosi foram as primeiras a chegar na cidade e adquirir o pedaço para o acervo do Museu Nacional.
Escrito nas estrelas
O Santa Filomena conta histórias por dentro e por fora.
A análise mineralógica da pedra não só comprova a idade. O laboratório descobriu no meteorito um componente que nem existe na Terra! É a troilita, literalmente um material extraterrestre. 👽
Do lado de fora, uma aula de astronomia: o Santa Filomena tem todos os traços de um corpo que caiu do céu — a 54.000 km/h! 🚀
Uma crosta escurecida, causada pela “queimadura” no atrito com a atmosfera.
Regmaglitos, marcas que parecem feitas com dedos, mas que são microerosões.
Linhas de fluxo, também cicatrizes da entrada na Terra, mas nas laterais da rocha — como se a incandescência fluísse por canaizinhos.
E uma “fratura exposta”, que prova que o interior é claro como o de uma pedra terrestre, possivelmente resultado do choque no telhado — mas não forte o suficiente para rompê-lo.
Luta contra as intempéries
Não à toa uma pedra é confundida com um meteorito: “São os menteoritos”, brinca Maria Elizabeth Zucolotto, do time Meteorísticas, que localizou, estudou e agora apresentou o Santa Filomena.
Elizabeth explica que “99% dos supostos meteoritos não são”. Aí a gente criou o termo menteorito. No inglês existem os meteowrongs, ante os meteorites, ou ‘meteorights’.
Exatamente porque é tão difícil achar um objeto que não seja um menteorito, Amanda Tosi explica que todo o tempo é pouco.
“Um dos fatores mais importantes quando um meteorito cai é a gente ir em busca logo em seguida”, disse.
“Esse fragmento está ‘fresco’, não vai sofrer com as intempéries, como chuva, a erosão. Tanto que o meteorito rochoso, quando ele cai e ninguém recupera, fica meses ou anos e acaba parecendo muito uma rocha terrestre”, explicou.
Um meteorito fará parte da nova coleção do Museu Nacional